REF/MT.14:22-36
…Enfim mesa posta!
– Muito bem filho! – Disse a mãe olhando para o filho e segurando a vontade de rir do tamanho orgulho que o pimpolho estava sentido por ter executado com êxito a tarefa. A família sabia da importância daquela conquista para o Caio, ninguém estava de maldade, porém ninguém queria rir e correr o risco de estragar o momento.
Tudo pronto, o pai se junta aos demais naquela mesa pesada. Puxando a cadeira de sândalo se senta bem de frente com sua esposa. Os lugares já eram marcados. Caio ao lado do pai, a mãe na frente deles, nas pontas Angela e Nicolas, sendo que a janela era reservada para a moça da casa, que gostava de olhar para fora, pois a vista lá de cima era magnifica. Mãos dadas, oração feita, frio do lado de fora, primeiro pedaço de bolo servido – É oficial! – Anuncia Angela, declarando oficialmente aberto o café da manhã da família Thor.
Nem parece que passou tanto tempo!
Esse foi o sentimento que amarrou sua garganta ao terminar de passar os olhos por todos e pousar a vista no fundo dos olhos da sua esposa que já havia trocado a vontade de rir pelo amargor das lágrimas engolidas a seco.
Faz 5 anos. Angela já com 14 completos, Nicolas todo feliz com aqueles dois dentes moles, ansioso para ir dormir logo e acordar no dia seguinte com uns trocados a mais e Caio, ainda um bebê de colo que não fazia nem ideia de quem era, muito menos fazia ideia do que era um machado.
Neve era normal nessa época do ano, mas aquela noite foi um pouco atípica. A neve logo deu uma engrossada e começou a se acumular no chão. Por isso a pressa de voltar para casa antes da sobremesa, que ficaria para outro dia. A estrada costumava ser fechada se a neve se acumulasse muito e ninguém veio preparado para dormir fora. O jantar na casa dos avós estava muito gostoso, mas era hora de ir.
Todos dentro do carro, um último aceno e lá se vai a família.
Estavam na cidade do lado, só que naquela região as cidades ficavam distantes umas das outras e com a neve cada vez mais densa, a viagem levaria no mínimo uns 40min.
Não dava para negar a preocupação no olhar do pai, pois além da neve acumulando, a preocupação tomava proporção pelo horário, pela pressa e pela data. Nesse dia as pessoas costumavam beber um pouco mais, o que aumentava significativamente o risco.
Foi logo na segunda curva após a ponte. Não era novidade, volta e meia alguém se acidentava nesse trecho e isso mesmo em condições normais. Nesse dia infelizmente foram eles os premiados.
Não teve aviso!
O volante virou, mas o carro seguiu em frente. A queda foi grande, estavam cerca de 20 metros acima do nível do rio. Por sorte as árvores eram grandes ali e de alguma forma conseguiram parar o carro antes dele cair na água. Angela parecia ser a que menos se feriu. Nicolas estava paralisado, com os olhos congelados na direção da mãe. Sua esposa estava desmaiada, notou nela um corte na testa e o sangue escorrendo pelo rosto, ainda um pouco desnorteado não conseguiu encontrar Caio.
Por conta do horário e da pressa, Caio viajou no colo da sua esposa. A janela do lado dela estava quebrada e o carro estava virado com as rodas para cima. Nesse momento o frio tomou conta dos seus ossos, o coração subiu para a garganta e as mãos tremiam involuntariamente. Sem planejar, o pai começa a chutar a porta do motorista presa pela neve e consegue sair do carro. Desesperado com os olhos mais rápidos do que seus pensamentos, encontra Caio deitado no chão ao lado do carro. Da um salto para alcançar o filho e nesse momento a razão volta, o momento em que o pai nota os dois bracinhos quebrados do seu filho…
O café da manhã era muito mais do que um café da manhã e aqueles três galhos eram muito mais do que simples galhos. A família comemorava ali uma vez por ano, a 5 anos, a fidelidade de Deus. Do jeitinho que eles encontraram, a família se reunia para agradecer por todos terem saídos com vida aquela noite.
To be continued…
Emocionante! Que alívio que todos saíram ilesos