REF/2Co 5:17
Há algo sobre o nascer de novo que é pouco falado, creio que seja pelo fato de não se saber o que isso significa. Quando nascemos de nossas mães, ninguém já nasce sabendo a falar, a andar, a comer ou segurar algo com as mãos. Com muito esforço e quedas aprendemos a ficar de pé, aprendemos a controlar a língua para que ela fique dentro da boca; é necessário sermos ensinados a assoar o nariz, ao menos meu sobrinho não conseguia fazer isso sozinho; coisas tão básicas, mas que não são tão naturais quanto pensamos. Do caminhar ao correr, do somar o número de maças em uma cesta à calcular o atrito de um objeto, há muita coisa a ser aprendida. Carregamos em si costumes, muitas crenças que passam despercebidas, mas que possuem raízes profundas no subconsciente. Imagine um jovem adulto perto de seus trinta anos, ou uma pessoa mais velha beirando os sessenta, há muita bagagem até aqui.
O nascer de novo envolve largar as coisas que carregamos conosco até o presente momento. Embora eu e você já saibamos como correr, pegar e soltar objetos, se equilibrar em linha reta, ler e compreender textos complexos, no fim, não sabemos de nada. Isso é muito mais profundo do que criar uma nova rotina, do que ler e orar diariamente, deixar de se importar com o que os outros pensam a respeito de nós ou de cobiçar as coisas dos outros. É algo tão profundo que chega a ser desesperador, pois para nascer de novo é literalmente necessário você morrer e, embora você não apareça na barriga da sua mãe, você se depara na mesma situação da vulnerabilidade de um recém-nascido.
Quando olhamos para o que a Bíblia diz sobre isso, vemos Paulo escrevendo para uma igreja que todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura, de modo que as coisas velhas não possuem importância, pois tudo se faz novo (2Co 5:17). Obviamente isso é muito lindo, mas a forma prática que esse versículo age em nossas vidas é reafirmando que você precisa morrer para, então, experimentar o “tudo se fez novo”. Ou seja, tudo aquilo que eu e você conhecemos e estamos acostumados não acrescenta valor na nova vida que Cristo nos dá. É como se você e eu aparecemos no lobby com nossas skills zeradas. Somos como crianças onde a única alternativa é confiar em quem cuidará de nós, afinal, quando recém-nascidos, não sabíamos como parar de babar, não controlávamos nosso intestino, muito menos enxergávamos com nitidez nos primeiros dias de vida. Alguém cuidou de mim e de você, alguém nos alimentou e nos ensinou a segurar uma colher, nos ensinou a segurar um copo e a beber nele. Alguém trocou a nossa roupa, segurou as nossas mãos em todas as tentativas que tínhamos de dar os primeiros passos, cuidou dos nossos machucados em todas às vezes que caíamos.
Nisso tudo só cabe a maldita fé (não me entenda mal), pois não posso confiar em mim ou no que trago em minha bagagem de vida. Não posso confiar nos meus argumentos, na minha própria capacidade de discernimento, em todas as minhas “boas obras” anteriormente realizadas, nada disso tem valor. É horroroso saber que nada do que tenho carrega um mísero valor, ou que tudo o que até então aprendi seja incapaz de me socorrer. Tudo dentro de mim lutará até o final para que eu não morra, mas sem a minha morte, não tem como eu nascer de novo. Jesus ao clamar a vontade do Pai pediu pela própria morte, pois essa era a vontade de Deus e a morte do Filho era necessária. A oração pela nova vida, pelas coisas que se fazem novas, implicam na morte do “velho eu”.
Deus, você sabe do meu apego a esta vida, mas chegou a um ponto onde sinto alivio ao pedir para que o Senhor me mate. Embora não compreenda e jamais tenha experimentado as implicâncias disso, clamo para que me mate. Esta é a única maneira de experimentar o renovo, a nova vida em Ti e todas as coisas novas. Como uma criança recém-nascida, quero experimentar do teu cuidado e descansar nos Teus braços. Estou pedindo pela minha morte, pois o meu “eu” se debate em constante planejar e se afoga no lamaçal de preocupações. Peço que me dê um coração ensinável e a fé necessária para ser ensinada por Ti. Solte as minhas mãos das coisas as quais me agarro; firme os meus pés em Ti e segure as minhas mãos. Me ensine o novo viver, pois como uma pequena criança dependo de Ti, embora, ainda como uma rebelde, também é de Ti que quero escapar.