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Angela voltou profundamente triste. Era visível o desconforto no olhar e a dor dos ombrinhos baixos abaixados pelas palavras de alguém que ali não estava. Obviamente o pai não fazia ideia do motivo, já que até então, lhe parecia um dia normal como a maioria dos dias sempre são. Então decidiu perguntar:
– Filha, o pai tá vendo que você parece triste. Você quer conversar?
Era do perfil dela segurar as coisas para si. Sim, muito por conta do trauma daquele acidente, contudo não dá para negar que ela se adaptou bem a essa personalidade de refletir antes de opinar sobre tudo. Só que dessa vez, foi justamente isso que doeu. Contudo, topando a conversa rapidamente, para a surpresa do pai que não imaginava que seria já o momento de ouvir, largou suas coisas na mesa e foi com ela se acomodar para papear com sua querida e sábia filha: – Me conta filha. O que está pegando?!
“- Ah pai” – disse ela com a voz tremula de desabafo…
…Hoje na igreja o professor perguntou pra gente ‘quem é você?’. A turma toda conhece Jesus, você sabe que essa não é novidade para ninguém de lá, afinal eles estão a tantos anos falando dele. Na hora eu só pensei não quero responder, ou certamente não quero ser a primeira e realmente não fui. Mas estava claro que eu teria que responder alguma coisa porque assim que o professor fez essa pergunta, meu coração ferveu até esquentar o resto do corpo. O calor amoleceu os joelhos, isso que eu estava sentada, assim entendi claramente que essa era mais uma das boas oportunidades que Ele me deu de compartilhar para os outros, aquilo que Ele tem me ensinado.
O pai já imaginava o que viria depois dessa breve introdução da filha. Angela quando falava, ou era extremamente profunda em suas explicações ou era demasiadamente rápida. Volta e meia isso complicava a situação para quem a ouvia. Era algo que ela claramente vinha aprendendo e amadurecendo.
Ela seguindo a explicação
– Ergui a mão para falar e quando chegou minha vez eu respondi que eu era a solução de Deus para o mundo. Só que assim que falei isso, a maioria dos meus colegas riram, me olharam julgando e o professor ficou brabo. Soltando a bíblia na mesa dele, ele começou a me corrigiu dizendo que nós não somos nada e que quem era a solução do mundo era Jesus e não uma pecadora. –
Angela imediatamente se sentiu um lixo naquele momento em que o professor a corrigiu severamente em frente a turma toda. Ela tinha tanta certeza do que havia dito e do que era para ela ter falado. Verdadeiramente era isso que Deus a estava ensinando, mas agora depois da fala do professor, na mente dela era óbvio que entre ela, uma jovem imatura e um professor com longa caminhada cristã dentro da comunidade, quem estava errado era ela.
O tapa foi grande, ela não teve tempo de refletir e por não ter refletido antes da sua resposta, a dor e a confusão a pegaram de jeito.
Como era possível que da certeza de quem ela era, surgiu uma mentira tão grande?
Essa foi a dúvida que o professor conseguiu ferrear no coração da jovem. A culpa dela estava visível. No pensamento, a vergonha de ter tentado tomar o lugar de Cristo diluiu todas as certezas que havia na sua cabeça.
Então, rindo por dentro, o pai teve o rápido discernimento do que o Espírito queria mostrar pra sua amada filha e percebendo que das duas formas da Angela falar, a opção escolhida dessa vez foi a fala rápida, pediu com uma voz que traria segurança a ela, que lhe explicasse com calma de onde essa resposta havia saído e assim a garota começou:
– Veio em minha cabeça quando o professor perguntou, a imagem de um estranho. Estávamos na mesma sala, as mesmas pessoas, mas em outro local. Vi o estranho passando seus olhos nos olhos de cada um daquela turma e de um e um perguntou se eles eram dignos da vida eterna. Uns se apressaram e responderam que jamais seriam dignos, que só há um digno e esse era Cristo. Outros concordaram e disseram que eram apenas pobres pecadores, sacos de esterco que não possuíam valor algum e outros preferiram ficar quietos. Então ouvi o homem dizer de uma só vez a todos que de fato assim eles pensavam.
Para ser sincera, eu pensei em responder a mesma coisa que meus colegas, mas meu sentimento era de que essa resposta não era a resposta que realmente estava no meu coração, notei que a vontade de concordar com todos, era mais para fazer parte do bando. Então, logo depois disso ouvi o homem dizer que…
Vocês acaso não são o sal que impede que a terra apodreça? Não foram vocês posicionados para apontar o Caminho aos que não O veem? Não diz o antigo e bom som, que vocês são dEle e Ele de vocês? Acaso Ele não é a Verdade e a Verdade não lhes foi dada? Acaso não foi pago um preço inimaginável pela vida de cada um da criação?
Cegos! Burros! Como podem então se dizer ‘sem valor’? Quem é o que define o valor de todas as coisas? Acaso Ele criou esterco? De fato, aos que nele estão, por meio dEle, a solução e esperança do mundo são!
– E ai foi quando o professor chamou meu nome e eu respondi que eu era a solução de Deus para o mundo. Eu não devia ter dito nada – disse a filha ainda com a mesma voz doída, tremula e decepcionada. Então ficou claro o que o pai deveria dizer.
– Filha! Ouve agora o que Deus quer te mostrar. Maldito é quem põe sua fé nas pessoas. Mansos e humildes são aqueles a quem Deus confiou seu tesouro e são esses a quem Deus usa para envergonhar religiosos e arrogantes. Mansos e humildes não possuem idade nem perfil definido, mas possuem algo em comum, esses ouvem e obedecem ao evangelho. Alegre-se nEle filha, você obedeceu!
Não deixe de crer em Deus e no que seu Espírito claramente te mostrou, por conta daqueles que se alimentam de livros famosos e vivem de frases decoradas. Esses são cegos, vivem sem saberem quem são. Foi para esses que a palavra veio por primeiro! Alegre-se filha, muito antes de você, outros com discernimento já afirmaram com a mesma coragem que esteve em você nessa manhã, que esse povo rejeitou a palavra que lhes foi confiada e com falsa humildade clamavam que não se consideravam dignos da vida eterna. Por isso, a palavra passou a ser anunciada aos outros, que a ouvindo, bendiziam ao Senhor por entenderem que haviam sido designados para a salvação.
A filha ao ouvir tudo isso voltou a sorrir e seus ombros voltaram a se firmar eretos, como geralmente eram. O calor voltou a consumir a sua alma e a certeza voltou ao seu coração. Então o pai seguiu falando que…
Não há sabedoria sem revelação, não há solução sem obediência. Não é a leitura, é o relacionamento! Não é o saber, é o servir. Saiba filha, todo aquele que lê e não se relaciona. Todo aquele que sabe, mas não vive. Jamais poderá dizer que é a solução, pois de fato usa a si mesmo como argumento. Esses seguem tentando viver com suas forças, para seus próprios planos e desejos. Levam ainda uma vida que tenta por mérito próprio conquistar o amor, o perdão de Deus e a vida eterna. Agora, aos que vivem a nova vida, podem dizer com segurança que são a solução de Deus para esse mundo, podem dizer que são dignos da salvação, pois esses filha, esses são os que não pertencem mais a si mesmos, são esses que têm a cara de Jesus e são esses a quem Deus reconhece!
Ah, nesse ponto a frágil garota explodiu em êxtase, pulou do sofá, foi em direção ao pai e ele sacando o que ela estava vindo fazer, ergueu as mãos e os dois bateram firme e forte suas palmas uma na do outro e então a filha encerra dizendo segura e certa da Verdade:
– POISÉ, É EXATAMENTE ISSO QUE EU LI!