Maldita insatisfação que me acompanhará até o dia da minha morte. Gostaria de simplesmente não existir nessa realidade miserável, onde quanto mais eu conheço quem eu sou, mais eu detesto e não suporto a imagem que enxergo no espelho. Quão dolorosa é a mudança, falhar de forma consciente, enxergar minimamente e não saber o que fazer, ou melhor, deixar tudo passar por mim. Maldito plano de salvação. Você não precisa de mim, sua verdade me causa dores físicas e uma raiva imensa, pois nada do que eu faço será um dia suficiente, já que até o dia da minha morte o meu EU me acompanhará. Essa parte de mim que Você revelou é cruel demais, e eu gostaria de remover os meus olhos para nunca mais enxergar novamente, pois é uma imensa tortura estar nas suas mãos, embora eu ouça constantemente que há liberdade nisso. Em algum lugar do meu coração eu sei que isso é verdade, mas eu me sinto paralizada em suas mãos, eu sinto que meu corpo está amortecido, meu cérebro acordado tentanto enviar sinais nervosos para que meus músculos se movam, mas nada acontece. Enquanto isso, uma adága está caindo em minha direção, as vezes parece descer mais rápido, outras vezes parece descer em câmera lenta. Assim, meus olhos, a única parte capaz de se mover, acompanham em agonia e aguardam com frio na barriga o dia em que ela me perfurará.
Queria que fosse mais fácil ser grata, menos reclamona, mais paciente e fiel. Alguém capaz de pensar no outro. Imagino que nada do que você me der será suficiente, afinal, nada nunca é suficiente para mim. Nada. Você me corrige, você me ensina, você se revela fiel e presente, mas eu ainda tenho uma visão extremamente distorcida de quem você é. Quando finalmente acho que sei de algo, as paredes ao meu redor começam a se fechar em minha direção. No momento em que as paredes começam a espremer o meu corpo, todo o meu desespero começa a saltar, e a verdade nua e crua de quem eu sou é exposta.
Eu acordo reclamando e vou dormir xingando, mas você sabe o quanto eu tenho tentado não ser assim, mas quanto mais eu tento, mais isso transborda.
Do fundo do meu coração, se não sou eu a responsável pela mudança, faça essa cobrança excessiva se conter. Eu reconheço que tenho dificuldades com o tema PERDÃO, pois quando estou me sentindo mal, imagino que todos os seus pensamentos são os mesmos que os meus, de forma que, se eu me odeio, você também me odeia. Quando eu estou com raiva e impaciente, também projeto isso em ti. Embora muitos desses pensamentos tenham perdido a força nos últimos meses, eles ainda existem e me cegam. Eu digo que tenho dificuldade com o perdão pois, caso eu tivesse compreendido verdadeiramente o que essa palavra significa e a implicância desse significado na minha vida, eu me trataria com mais carinho. Eu detesto o jeito que eu me trato, você não me enxerga do jeito que eu me enxergo, mas eu não consigo entender isso.
Eu não consigo me tornar boa, eu não consigo mudar minhas motivações, eu não consigo fazer absolutamente nada daquilo que você deseja. Sua vontade é completamente diferente da minha, meus sonhos e desejos são extremamente centrados em mim, em cada rua eu tropeço em mim mesma, em toda fuga eu acabo me encontrando, no entanto, eu sempre acabo em você.
Eu te agradeço pela viagem que você me deu, após tanto pedir, tanto sonhar, sem haver um esforço meu, você me deu. Passagens pagas, acomodação garantida, reencontro com pessoas que sinto muita falta, oportunidades de trabalhar com algo que eu gosto onde não preciso sacrificar todo o meu tempo, horas de sono e relacionamento com as pessoas. Te agradeço pela câmera analógica que você me deu. Uma pessoa aleatória de Cruz Alta lembrou de mim e entregou a câmera para minha mãe. Também agradeço pelo filme 35mm que ganhei de aniversário. Realizarei uma viagem irada com uma câmera mais irada ainda em mãos. As coisas simplesmente acontecem, você simplesmente me dá. A vida que eu levo eu jamais conseguiria me proporcionar. Eu vejo o teu cuidado, você me ensina a lidar com o dinheiro, me ensina a lidar com minhas emoções, puxa o freio das minhas angústias e impulsividades. Você corrige os absurdos que eu falo em meus desabafos antes de dormir, revela as mentiras que eu insisto acreditar. Quando eu achava que estava bem e não te conhecia, você estava lá, e segue comigo até hoje, e certamente seguirá amanhã.
Só que todas essas verdades eu esqueço sempre que as paredes se fecham, quando uma oferta surge. E eu realmente não queria ser assim, pois você abriu meus olhos para algumas coisas, então eu sei discernir entre coisas que valem a pena e o que não vale a pena. Não tem mais graça me iludir, mesmo que me esforce para sustentar a ilusão, sua verdade me perturba no íntimo do meu coração e me incomoda. No fim, eu sempre acabo em você.
Tudo está muito bem, mas dentro da minha cabeça e coração está tudo bem bagunçado. Minha dor é por mim mesma, não sei sofrer pelo outro. Se você sabe disso, precisa mesmo deixar eu me ferrar? Sua vontade vai ser feita de qualquer forma, em algum momento eu terei que aprender essas coisas, então me ensine a esperar. Em meio as minhas birras, eu sei que é melhor estar com você.