REF/Gn 3:6
Faz oito anos desde que “decidi” fazer parte de uma igreja, certamente algo me conquistou, pois vivi os últimos anos em uma, cercada por jovens, adultos e idosos. Nesse pouco período, conheci quatro pastores, os quais caminharam comigo em “discipulado” e também fui inserida dentro de suas famílias. Em pouco tempo eu estava enturmada e, para quem nunca tinha se encaixado em um grupo, tal local era “acolhedor”. Eles precisavam de alguém que tocasse violão, foi assim que a igreja entrou na minha rotina, pois toda semana ensaiávamos para um retiro de jovens que aconteceria. Foi uma boa troca, eles precisavam de alguém para tocar e eu precisava de pessoas ao meu redor. Obviamente nenhum de nós tinha consciência do que estava sendo feito, parece inocente, mas as motivações pela qual tomamos certas decisões ou fazemos determinadas coisas determinam o fruto, ou melhor, a qualidade do fruto daquilo que é plantado.
Como eu disse anteriormente, conheci quatro pastores, os quais me incentivavam a servir na comunidade e me falavam coisas que eu jamais havia ouvido anteriormente. Eu me sentia valorizada, sentia que era vista e que finalmente eu era útil para alguma coisa. Novamente, parece algo inocente, mas não é. Enquanto eu recebia o que queria, mesmo que inconscientemente, eu também dava a todos o que cada um queria, fosse companhia, elogio ou ombro para chorar. Eramos uma “família”, não é assim que falam hoje também? Pois bem, o tempo passou, pessoas foram embora e outras entraram, novas conversas, novos amigos, novos ministérios e novas funções. Havia muitas coisas novas acontecendo, grandes investimentos sendo feitos no grupo de jovens, táticas para atrair mais adolescentes, séries de pregações baseadas na cultura POP, todos ao meu redor se dedicavam de coração a essas coisas. Creio que você já tenha ouvido falar, mas o coração mente e engana, não é por que algo aparentemente seja bom, agradável e desejável, que seja certo e verdadeiro.
Em meio à todas essas coias novas, eu permanecia a mesma, recebia dos outros o que eu queria e seguia do mesmo jeito. Pregava sobre frutos do Espírito, sobre refletir a imagem de Deus, sobre Fé e Obediência sem ter a menor noção do que tais palavras e versículos significavam na vida prática. Mas, como a mentira convence ao homem com aquilo que cada um valoriza e anseia, um bom espetáculo cheio de referências bíblicas era suficiente para que todos acreditassem no que era dito. Tínhamos estudos bíblicos, grupo de oração e até alguns momentos de jejum, mas nada havia mudado verdadeiramente dentro de mim, e tudo o que eu tinha era conhecimento e mentiras para rebater as minhas crises existenciais.
Como a mentira da vida que eu levava era agradável aos que comigo conviviam, ninguém nunca notou que algo estava errado, de modo que passei esses anos afundada em angústia, carência e dúvidas. A minha angústia me levou a me agarrar à qualquer migalha de conforto e prazer que apareciam no meio do caminho; minha carência me escravizou a pessoas, tanto emocionalmente quanto sexualmente; enquanto minhas dúvidas me atormentavam, pois embora tivesse várias respostas, nenhuma delas era capaz de me limpar e libertar.
Na época, eu não tinha a menor consciência da grande sujeira e bagunça na qual eu estava inserida, o que não me torna inocente ou vítima do que aconteceu. Acolhi cada palavra, elas eram ditas em um formato que encaixava perfeitamente ao que eu queria ouvir, as funções nas quais servi me davam exatamente o que eu queria receber. Por um certo período, coloquei todos os meus líderes e suas famílias em um pedestal, suas palavras eram a maior verdade já anunciada e não havia um defeito na vida de cada um. Minha irmã via coisas que eu não conseguia enxergar, então, quando me foi alertado sobre certas incoerências, me virei contra ela e tornei ela a vilã da história, de modo que acreditei fielmente de que tais observações eram sem fundamento e que ela estava motivada pelos ciúmes. Quando a verdade é dita, ela confronta, para alguns, se torna insuportável de ouvir.
Nos últimos três anos, Verdades me têm sido ditas, as quais não são fáceis de ouvir, pois me colocam em frente a um espelho onde tudo o que sou, o que penso e desejo é exposto. Tudo o que escondi, tanto de mim, quanto dos outros, está sendo colocado debaixo da luz de Jesus, o qual eu primeiro tive que admitir não conhecer, mesmo após um período considerável lendo a Bíblia, pregando e discipulando pessoas. Eu não conhecia Jesus, mas insistentemente Ele veio atrás de mim e me fez cair em suas mãos, de modo que tenho enxergado onde cada mentira me pareceu boa, agradável e desejável. Em momento algum fui vítima, pois acolhi a mentira e fiz o que desejava, tudo isso de forma não sincera e usando o nome de Deus para justificar as coisas, de modo que eu não saísse como responsável pelas consequências das minhas ações.
Uma gota da verdade basta para inundar uma igreja e desfazer o covil de mentiras que nela se constrói. Os líderes alimentam os seus jovens com mentiras e respostas que os conduzirão ao desespero, enquanto os pastores fogem de falar à verdade para as suas ovelhas, pois não o fazem primeiramente em suas casas. Quando confrontados, a face de cada um se transtorna, de modo que acusam uns aos outros para não admitir o próprio erro, assim, caminham em uma corda bamba que não os sustentará por muito tempo, pois Deus os fará cair e perceberão o quão tolos foram. Saibam que, enquanto comem, bebem e festejam, os jovens das suas comunidades, filhos, maridos e esposas estão morrendo na frente de vocês.
A verdade lançada em minha direção e que primeiramente foi recebida como uma ofensa, não só me trouxe vida, mas também tem me ensinado a viver em liberdade. Como uma pedra que quebra os vidros de uma casa e a invade, aguardo que ela atinja a cada um bem na cabeça, pois para viver é necessário primeiro morrer.