Antes de tudo, sei que esse tempo é necessário para que minha fé, sendo aperfeiçoada, esteja somente em Ti.
Caso alguém chegue até aqui, peço que desconsidere o que está escrito abaixo, pois é a minha queixa, amarga e pessoal, sendo derramada contra Deus. Felizmente, Sua natureza não é alterada segundo as dores do meu coração, Ele segue sendo fiel, justo e bom.
É como se todas as luzes tivessem sido apagadas, e, dessa vez, me encontro no mesmo barco da outra vez. Você lembra do barco o qual me mostrou? Construído de madeira, parado no meio do mar, rodeado de névoa, de modo que eu não era capaz de enxergar o que estava a minha frente, muito menos, de reconhecer os meus pensamentos. Essa névoa percorre todo o meu corpo, e, novamente, está aconchegada em meu cérebro desde o início do mês.
Eu não sei ao certo se o que sinto é medo, dor ou vergonha. Medo, pois confiar em Ti é se lançar no mar de incertezas, sem saber por qual tipo de solo os meus pés pisarão. É se lançar no mar da insanidade! Quando penso no “Seja feita a Sua vontade”, imagino as maiores dores, as maiores desgraças capazes de acontecer na minha vida ou com aqueles que amo. Essa visão está completamente distorcida, mas, em minha ansiedade, Te vejo como um Deus que brinca com os seus, que é sádico com a criação que se rebelou de Ti. Um Deus que há de punir diariamente a humanidade, pois a mesma é digna de todo tipo de dor. Quanto a mim, penso que a única forma de correção eficaz contra toda minha rebeldia, provém do sofrimento, da dor e da perda.
Dor, pois meu coração dói. Embora, hoje, os tempos – da minha vida – sejam diferentes, assim como você, a dor anda lado a lado comigo. Olho para trás e vejo que o Senhor sempre esteve ao meu lado, da mesma forma, a dor sempre se manteve fiel assombrando os momentos de alegria. Eu vejo o Seu amor, eu experimento do Seu cuidado, mas nada disso alivia o que sinto. Por vezes, me sinto leve, como se todo peso tivesse magicamente sumido do meu peito, mas, mais cedo do que eu gostaria, ela volta. O meu mais sincero pensamento atualmente é de que, assim como foi na família, sou apenas tolerada, uma pequena obrigação que você colocou nas mãos de alguns. Preciso me convencer de que sou querida, a todo momento busco nas Suas afirmações algo que seja capaz de calar essas vozes que insistem em voltar. A vida é uma grande merda, se é isso que terei que fazer pelo resto da minha vida, seria muito melhor eu fazer o que eu bem quero, mesmo que isso termine me corroendo e me mate. O fato de todo esse meu discurso partir de um vitimismo, o que eu tenho consciência, saber disso não anula o que eu sinto. As Tuas palavras também não anulam os pensamentos intrusivos. Se o que eu preciso é de um soco na minha cara, venha até mim e grite comigo, de alguma forma, cale esse inferno de mentiras e egos que ecoam noite e dia na merda da minha cabeça e coração. Não se cale nessas horas, basta uma ordem e a calmaria há de chegar. Você acalmou os ventos e as águas, será que você pode acalmar essa minha tempestade?
O que me sobra é a vergonha, pois tudo sempre me envergonhou, tudo sempre foi motivo de piada e descrédito. Toda elaboração do que sinto ou do que vejo gera risada. Eu odeio quebrar na frente dos outros, apesar da realidade ser diferente do que eu sinto, dentro do meu coração eu recebo olhares de julgamento. Eu me sinto um fardo, algo a ser tolerado, uma obrigação. Devido a isso, sinto vergonha em simplesmente existir, me sinto inadequada em todas as ocasiões. Como você quer que eu me sinta? Por acaso devo me desprender de mim mesma, parar de busca no outro um valor, uma migalha de amor, e me agarrar nas belíssimas palavras que você diz para mim? “Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável!”. Eu, do fundo do meu coração, não consigo acreditar nisso, ainda. Precisa mesmo me fazer lidar com as memórias que doem? Preciso mesmo reviver o abandono? Queres que eu vá lá atrás, onde não houve amor, para ver a Sua fidelidade no passado e, então, sentir esse amor que as suas testemunhas relataram?
Eu reconheço as desculpas por trás de cada frase escrita. Embora, no momento, eu não seja capaz de santificar o Seu nome, você segue sendo Santo, segue amando, sendo fiel e justo. Sei que, quando a névoa passar, logo te enxergarei como de fato és, e, nesse dia, espero que crer no que você diz seja algo natural em meu coração. Nesta amargura, não me deixe pecar contra Ti, pois, apesar de estar com medo, com dor e com vergonha, sair de perto de Ti seria muito pior.