Na linha temporal da minha vida, ao menos 90% dela sempre estive angustiada e com medo da perda. Não sei ao certo como esse sentimento se originou e foi constantemente alimentado em meu coração. Nos meses finais de 2022, tive meu coração dilacerado ao ter consciência de que pessoas entram e saem de nossas vidas. Isso parece algo extremamente óbvio para a maioria dos adultos, é uma das experiências que cruzam a linha do inevitável. A intensidade e a frequência dessas despedidas variam, mas esse dia há de chegar.
O momento em que chorei amargamente, senti conforto. Eu guardava o choro já fazia mais de meses, mas junto com ele uma raiva que mascarava a dor e o medo. Estava indignada com Deus, como pode permitir tanta dor e sofrimento? Será que minha função no mundo é ser um porto? Pessoas chegam e vão embora o tempo todo, não há ninguém que permanece, não há um coração que eu possa me aconchegar sem ter que fazer as malas e sair às pressas da noite para o dia.
Mas como uma boa pecadora, a marca do vitimismo em mim é tão visível quanto o meu nariz. Fui confrontada por um querido amigo quando o mesmo disse que eu sou a que sempre vai embora. Parafraseando ele, eu abandono primeiro. Obviamente tenho muitos argumentos que justificam tal ação, mas diante de Jesus só me restou sentir vergonha. Vivi cerca de cinco lutos por antecedência, um luto por pessoas que não morreram, apenas seguiram suas vidas em locais diferentes, distâncias diferentes. Mas conforme o tempo foi se passando, eu as deixei. Não de forma direta, pois lentamente as mensagens foram se acumulando no fundo das notificações, agrupadas em uma categoria de “não lidas”.
Minha dor é que sempre vão embora, mas eu também vou. Quando as coisas ficam difíceis, eu solto a mão, abandono o barco, visto minha capa de vitimismo e me escondo na primeira sombra que encontro. Não quero que minha face seja revelada, quero apenas deixar a amargura dentro de mim escorrer pelos meus olhos.
Me considero uma tremenda de uma [censurado]. Mas o amor que me é concedido não mudou, nem ao menos diminuiu ou aumentou. A permanência de Jesus sempre manteve constância na linha temporal da minha vida inconstante. Ele permanece o tempo todo e a todo momento expõe meu rosto e coração à sua luz, revelando a imensidão que achei que poderia esconder. A máscara já não cobre mais meu rosto, já não há mais espaço para meu vitimismo.
Há tantas verdades que precisam se tornar verdades em meu coração. Estou em um processo de entender o que é ter o outro como prioridade, o que é me importar e me interessar pelos interesses do outro. Pela minha própria vontade eu não estaria nem ao menos me questionando a cerca disso, mas Ele está me incomodando, mexendo onde eu optaria, e opto, por manter escondido.
Eu temo, sofro e me amarguro com o medo de algo que sempre fiz e tendo a continuar fazendo. A boa notícia é que eu não preciso continuar desse jeito, e o que eu recebi foi um amor que permanece, um amor que não vai embora. Eu mudo o tempo todo nessa linha temporal sustentada pelo próprio Deus, mas a minha inconstância não vai determinar o resultado do que Ele quer fazer em mim, em você e em cada canto desse mundo. O que me resta, e é a única escolha possível, é me deixar ser amada, exortada e ensinada por aquele que Permanece.